Não podes. Há coisas de que não te podes esquecer. Respostas pendentes, compromissos marcados, datas importantes.

Por isso, faz qualquer coisa para te lembrares. Compra uma agenda, muda hábitos, arranja sirenes, pede a alguém. Mas não te encostes a uma desculpa que não serve: lembras-te daquilo que levas no coração. E o teu coração tem espaço para mais, se saíres tu para o deixar livre.

Desculpa, mesmo que seja involuntário, se não te empenhas parece desprezo. Ou imaturidade.

Esforças-te muito e mesmo assim esqueces-te? Pede desculpa e não percas a paz!

Hoje, Jesus deixa-Se levar pelas ruas da cidade, acompanhado pela nossa devoção e pelo olhar admirado de quem não O conhece.

Amanhã, Jesus continua a deixar-Se encontrar mas espera que O leves tu à cidade, ao trabalho, à família, aos amigos.

Enche-te de Deus. Procura-O no sacrário, faz-Lhe companhia. Arranja tempo para estar presente.

E enche de Deus o mundo, com o exemplo e com a palavra. Sem vergonha, sem medo. Como Ele, por amor.

Eu percebo. É bom trazer sangue novo, abanar os que estão encostados e desiludidos há muito tempo, contrariar o "sempre se fez assim".

Mas não és a última bolacha do pacote!

Tenta melhorar o que se pode melhorar, sem desvalorizar a opinião e trabalho de quem veio antes de ti. Ouve, respeita processos, reza.

E não desprezes a eficácia de conseguir trabalhar com unidade.

Jesus, um dia havia de sentir falta do que entreguei. Sabia-o, mas envergonha-me esta leve esperança de o reaver. E com inveja dos outros, tenho pena de mim.

Sim, devolve-me o que Te dei. Mas não como o pus nas Tuas mãos. Dá-me antes o Teu coração em troca do meu, dá-me os Teus cravos em troca da minha liberdade, dá-me o Teu afeto em troca dos que larguei, dá-me a Tua paz em troca da minha ambição, dá-me o Teu amor em troca da minha vida.

E, em troca do meu entendimento, a luz. Para ver como ganho, dando-Te o que queria guardar.

Não te queres comprometer, não queres gastar tempo a ajudar, não queres ter filhos, não queres cuidar, não queres defender uma causa, não queres ter pesos, não queres arriscar.

Ligas muito ao ginásio, à dieta, à rotina, ao cão, à tranquilidade, à imagem, ao lugar...

Desculpa, não tens esperança?

Foste batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Assim te benzes e terminas muitas orações.

O mistério central da tua fé revela um pouco da intimidade de Deus. Sendo um só, é comunhão. E convida-te a fazer parte dessa comunicação de amor.

Hoje, festa da Santíssima Trindade, procura Deus que mora na tua alma. Entra em diálogo com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo. E pede a fé que te falta para te maravilhares com o amor que não compreendes. Mas tocas.

Lembras-te como falavas com Deus? As palavras simples que aprendeste em casa, pedidos de ajuda e proteção, declarações de um amor alegre, ingénuo e sincero.

Agora a tua fé é mais intelectual. Mas por que deixaste de rezar com simplicidade?

Volta à tua piedade de criança. Reza antes de dormir e ao acordar. Põe sempre o teu dia, –a tua vida– nas mãos de Deus, que te criou, que te guarda, que te olha em cada momento.

É o teu sítio.

Eles esperam porque tens de acabar qualquer coisa, eles mudam planos porque te dá mais jeito, eles complicam a vida porque tu te atrasas.

Iam ser 20 minutos mas decidiste que seria uma hora, estão com pressa mas tu não reparas, têm muito que fazer e tu não ligas.

Que mudem as agendas para se adaptar à tua. Como se dispusesses do tempo dos outros, porque o teu é mais importante.

Antes que fiques definitivamente só, começa a dar valor ao que os outros fazem.

Tens mil coisas para fazer, ajudas aqui e ali, queres estar sempre disponível. E ainda tens iniciativas, projectos, coisas boas que gostavas de lançar.

Há mais gente, mas sobram sempre mil pormenores e imprevistos que te fazem estar constantemente a apagar fogos.

Vives a fazer coisas, esqueces as pessoas. Ocupas-te com números, esqueces as almas. Inventas recursos, esqueces a oração. Confias em ti, esqueces Deus. Será que vale a pena?

Para pegar aos outros o fogo de Cristo, talvez tenhas de fazer menos.

Perdes tanto tempo de descanso por causa do telemóvel! Não queres perder as novidades, o que se comentou, o que alguém talvez ainda te queira dizer, a sensação de estar atualizado...

E não dormes.

Mesmo que sejam coisas importantes, não perdes nada se só as vires no dia seguinte. Desliga o telemóvel, descansa.

Viver livre vale mais que saber novidades.

Calma, rapaz! Não te assustes!

Mas lembra-te que, para um católico, é perfeitamente natural pensar nesta possibilidade. Que não é para pessoas especiais, como nenhum caminho de entrega o é.

Bem sei que não te consideras à altura. É verdade: não estás. Curioso é que te aches à altura de outra vocação qualquer. Se não te abandonas, não consegues nada em lado nenhum.

Confia em Deus, que te dá o que te pede. E deixa-O pedir o que quiser.

E neste "só que" entra tudo o que lhes falta para serem iguais a ti, viverem o teu espírito, terem as tuas prioridades, fazerem como tu fazes.

Mas a comunhão na Igreja não é uniformidade. Os caminhos de Deus são tão ricos quanto Ele mesmo.

Vive o carisma que Deus escolheu para ti com amor, exigência e fidelidade. Esforça-te com alegria para que os outros possam fazer o mesmo. E tira da cabeça a mais leve sombra de competição.

O Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos e deixou-lhes o coração em chamas. Com esse coração ardente mudaram o mundo, testemunhando o amor de Cristo. Livres de medos, atearam o mesmo fogo, coração a coração.

Hoje, o Espírito é o mesmo, os corações são iguais, o mundo precisa de outra mudança.

Tens deixado que o Espírito Santo tome conta de ti?

Como seria o mundo à tua volta se vivesses mais entregue? O que mudaria se decidisses dar-te totalmente, por amor a Deus? Não mexe contigo que haja tantos longe Dele?

Fazem falta as vocações entregues e a oração é o nosso principal recurso. Reza a tua vocação, reza pela dos outros. Deus chama todos.

*

E junta-te a uma rede de oração pelas vocações que é a coisa mais simples do mundo: rezar todos os dias a mesma oração. Link na história.

São horas infindáveis de trabalho que te tiram tempo para tudo o resto: a família, os amigos, a oração, o descanso.

Entregas-te com a postura de quem se sacrifica pela causa. Mas na verdade não percebo porque passas ali tantas horas.

Multiplicas os cafés e as pausas. Gastas imenso tempo a procurar coisas porque tens tudo desordenado. Não queres delegar porque não confias em ninguém. Interrompes o trabalho por tudo e por nada. Perdes tempo com o que gostas para fugir do importante. Não levas até ao fim as tarefas que começas.

Talvez fique bem sair tarde do trabalho. Mas talvez pudesses fazer o mesmo em metade do tempo.

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