É bonita a tua preferência pelos mais fracos, a consideração que tens por quem sofreu ou sofre, a comoção que sentes pela dor e pela doença.

Mas chega a ser tão sentimental que lhes nega a autonomia, tão boazinha que lhes despreza a liberdade.

Ajuda no que podes, ajudando-os a dar o que podem. Não é preciso –nem bom!– desculpar tudo e tudo permitir. Há lutas a travar, talentos por descobrir, pecados a corrigir.

O caminho é diferente. Mas a proposta ainda é a santidade.

Falta-te audácia. Tentas sempre pequenino, seguro. Não acreditas nas pessoas, nem no trabalho bem feito, nem no poder de Deus. Vives a enterrar talentos, teus e de outros, para não os perder.

Ao teu lado, fazem grandes coisas os que não conhecem Cristo. Atraem gente, trabalham bem, mexem-se.

Faz como eles, aponta alto. Tens os mesmos meios. Tens motivos maiores. E tens Deus!

Se estás apaixonado, não queres ser como ninguém. Apenas estar com quem amas.

E Deus, infinitamente apaixonado por ti, não te quer igual a nenhum outro. Apenas estar contigo.

A oração hoje está a custar-te. Não tens nada para dizer e os textos nada te dizem.

Olhas para o relógio, respondes a uma mensagem que é urgente (ou tão breve que não conta como interrupção!), deixas-te vencer pelo sono, pensas nas tarefas do dia, apressas as palavras, desenhas no caderno (mas um símbolo religioso!), suspiras, vês as notificações, desistes.

Não desistas.

Insiste, leva essa oração, com esforço, até ao fim. Não deixes que a relação com Deus dependa dos teus apetites ou do consolo que te traz. Fica. Como um bom amigo.

Insistes nos planos, companhias e locais que puxam pelo pior de ti. São ocasiões de pecar e, normalmente, pecas.

Ninguém notava se faltasses, mas não o queres largar –não dás tanto a Deus!– porque achas que és tu quem deve crescer na fortaleza: outros vão e não caem.

E tens uma teoria bem construída sobre a proximidade a esses sítios onde Deus não está e onde, supostamente, O levarias. Mas acontece o contrário: é ali que esqueces Deus.

Deixa a teoria nas mãos Dele. Talvez seja preciso lá ir, mas talvez seja de outro modo. E talvez não sejas tu, que és forte para muita coisa, mas ali tremem-te as pernas. Pôr Deus em primeiro, tem consequências.

Até ficas envergonhado! Parece que a imaginação escolhe os momentos menos convenientes para ir buscar as coisas piores. Estás na Missa, a rezar, na companhia de alguém de quem gostas, a ouvir coisas importantes, em paz, em algo sério... e passam-te pela cabeça os pensamentos mais vis, ou mais baixos, ou mais feios.

Choca-te que, perante a beleza de Deus e dos outros, sejas capaz de olhar, com um mínimo de atração, para tudo o que é feio.

Não te preocupes. Tenta, com simplicidade, que a imaginação ceda ao teu domínio. E sem inquietação volta ao bom que tens diante.

E não ligues muito: tu não és o que te passa pela cabeça.

Não começas. Atrasas até já não valer a pena começar. Vais fazendo umas coisinhas. Preparas outra vez o que vais precisar. E começas amanhã.

E interrompes mal começaste. Já podes dizer que estás a fazer. Ficas mais tempo na interrupção que na tarefa. Dizes que foste interrompido, aproveitas, desejas que te interrompam.

Não terminas, tudo está começado, nunca feito. Não acabas sequer de perder tempo: a net é infinita, deixas-te levar. Não descansas. Do quê? Não te deitas, não desligas, não te levantas. Não começas...

Se não reagires, a vida vai dar-te uma cacetada...!

Que sabes fazer e fazes bem. Tens imenso talento e uma fome insaciável de ajudar os outros, de falar de Deus.

E metes-te, aceitas desafios, lanças projetos, estás em mil coisas boas. Todas são prioritárias, todas dão fruto, todas são exemplo do que se devia estar a fazer.

Medes os números. E não reparas que aquilo a que te comprometeste, antes desse entusiasmo, ficou por fazer. E que aquelas pessoas que contavam contigo estão sozinhas. E que aquele pequeno foco de luz, onde não brilhavas, se apagou.

Pela família, pelos amigos, pela paróquia... por Deus, estás disposto a largar algum desses projetos maravilhosos?

Como queres apresentar um Deus que é amor, se mostras precisamente o contrário?

Não estou a falar da tua fidelidade à doutrina. É o modo, a atitude: parece que só queres ter razão, vencer, humilhar.

Deus fez-se homem, a nossa fé é relação. Não basta conhecer Cristo, Ele pede o coração. Não basta falar Dele, tens de O mostrar.

Quando não és amável, não és credível. E a tua preocupação pelos outros é muito ineficaz. Se é que existe...

Ter uma vida cristã que vá além do "cumprir". Ser cristão por amor, pela verdade, em todos os momentos. Procurar Cristo nos sacramentos, na oração, nos outros.

Dar menos importância às minhas coisas, à minha imagem, à minha carreira, à minha saúde, ao meu futuro, à minha popularidade, ao meu conforto, à minha forma.

Ser responsável, não me queixar, não arranjar desculpas. Viver com sinceridade, sem fingir, dando a cara. Disposto a sofrer por Deus, pelos outros, pela justiça, pela verdade.

Estar alegre. Que é o resultado das anteriores.

Depois de encontrar o Menino e com uma especial luz de Deus, os magos voltaram a casa por outro caminho.

Ver Deus assim no presépio, partilhando a tua própria fragilidade, estendendo a mão para te aproximares sem medo, não te move a mudar de vida?

As decisões de entrega que vais adiando, as justificações interiores que procuras para não ter que mudar, os maus hábitos a que estás agarrado... O menino pede-os.

Deixa tudo aos Seus pés. Deixa a vida, para nunca mais a reclamar. Não importa que estejas longe: põe-te no caminho certo.

Não há mais nenhum no teu ambiente que, além disso, ainda acha ridículas as tuas ideias. Preferias não ter de guardar a fé com tantos riscos de imagem ou tanta sede de confronto. Tens medo.

Mas o teu papel aí não é brilhar, nem vencer. É servir.

Em vez do grupo, pensa nas pessoas uma a uma: este, aquela, o outro... Consegues ter, para cada um, os mesmos sentimentos de Cristo?

O ambiente, o grupo, a multidão, continuarão a assustar-te. Mas a amizade não mete medo. E um bom amigo é um exemplo eloquente da mensagem de Jesus. És?

Agradeço que mo digas. Mas não chega. Ainda não percebeste que não estou a conseguir largar?

Dá-me razões, explica-me como se larga, diz-me a que me devo agarrar. Os argumentos de autoridade já os conheço bem. Não mandes: acompanha-me, anima-me, ajuda-me.

Eu conheço a lei de Deus. Queria conhecer agora o Seu amor. Poderei contar com a tua paciência?

Tens bons desejos de entrega. Vês um caminho luminoso, cheio de frutos e alegrias, que podes percorrer se aceitares esse convite.

Mas tens medo. Tantos à tua volta que começaram com o mesmo entusiasmo e saíram do caminho. Ou outros para quem os passos se fizeram tão pesados que a jornada parece devastadora.

E procuras segurança, certezas, garantias de que a decisão é certa. Que não vais mudar, que ninguém mudará, que nada muda.

Só Deus não muda. E é Ele quem te pede, pessoalmente, o que sabe que podes dar. Não tens a vocação dos outros: não a copies, não a julgues, não a temas. Jesus, que te chama, também está nos momentos duros do caminho.

Podes.

Começamos 2025 com a festa de Santa Maria, Mãe de Deus. Pede-lhe que te dê a mão todos os dias deste novo ano.

Porque não sabes dar dois passos sozinho, porque ninguém te conhece como ela, porque é a mais fácil de convencer.

Mas não esperes um ano fácil! Nem o peças: esta mão materna é abrigo em qualquer tempestade.

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