Tema: Conversão

Espera que a Missa acabe. Espera que saia o sacerdote paramentado que foi Cristo no altar. As compras e o almoço podem esperar um bocadinho.

E lembra-te que acabaste de comungar. Ainda tens Jesus dentro de ti durante uns minutos. O que lhe costumas dizer? Como aproveitas esse tempo de intimidade? Como agradeces?

Não despaches Deus, que veio ao teu encontro sem pressa.

Não te importa ser bom, agir bem, fazer o que está certo. Apenas ser bem visto.

E vais à confissão arrependido do que viram, não do que fizeste. Dói-te mais que vejam as tuas fraquezas do que virar as costas a Deus. Acabas por pecar para ficar bem.

E vives com medo dos homens e de Deus.

Olha para a cruz. Pensa no que Jesus te oferece e como o recusas. Pede-Lhe amor e dor de amor. E agradece o Seu olhar constante, atento e amoroso, sobre ti, tão diferente do teu olhar sobre os outros.

É verdade!

Vai a meio. Já fizeste alguma coisa? O teu propósito ainda está de pé?

Não tens de contar sacrifícios, nem um número de boas ações. Mas tens de insistir no esforço por te aproximares mais de Cristo.

É um tempo de graça que Ele, Jesus, te quer conceder. Recomeça hoje a luta, sem paranóias mas com generosidade. Bem disposto a acolher a proximidade que Deus tanto deseja mostrar-te.

Fazes coisas admiráveis. Recebes imensos elogios e contam muito contigo.

Mas tu sabes que podes fazer tudo isso por vaidade, para que te louvem. Sabes que o podes fazer atropelando todos ou para que não sejam outros a fazê-lo. Sabes que o podes aldrabar sem que alguém note. Sabes que o podes guardar com egoísmo, sem ensinar e fazendo que dependam de ti. Sabes que podes perpetuar a tua opinião, sem ouvir ninguém. Sabes que há outras coisas que devias ter feito e não fizeste.

Como já sentiste um pouco de tudo isto, pensa onde podes corrigir a tua intenção. Não basta fazer coisas boas: é preciso fazê-las bem. Com Deus.

Por coisas de nada! Uma ideia que não passou, um deslize que outros viram, a sensação de não ser tão estimado, um desejo que não viste satisfeito, a expectativa que não cumpriste.

Perdeste. E deixas-te cair na tristeza, no papel de coitadinho, por coisas que são pouco mais do que orgulho ferido.

Jesus, que esqueceste por momentos, está a tentar dizer que não foi derrota nenhuma. E que, ainda que fosse, está ali para te levantar.

Estende a mão. Não vale de nada procurar consolo longe de Deus.

Estás longe de ser perfeito. És bastante criticável.

Mas Deus, que conhece bem as tuas lutas e derrotas, quer dar-te mais uma oportunidade. Quer sempre. Tem a mão estendida, mesmo quando Lhe viras as costas e escolhes correr, teimoso, na direção contrária.

Nessa mistura de orgulho e vergonha pelo que fazes mal, confia em Deus. Não largues a mão que te estende com confiança.

Ouviste uma ideia para a tua vida cristã que te pareceu exagerada. Não é que discordes, mas já ninguém vive assim, são coisas de outros tempos, não é o mais importante.

E incomodou-te. Mas procuraste argumentos para defender o contrário e não os encontraste. A não ser a necessidade de compreensão e da intenção recta, que ninguém tinha posto em causa.

Talvez não seja uma ideia exagerada. Talvez seja só algo que não queres dar. Talvez seja o que Deus queria que ouvisses. Talvez faça sentido em quem vive por amor. Talvez seja para ti.

Não desprezes essas luzes.

(Vamos fazer uma pausa. Voltamos na Quaresma.)

Já não sabes voltar para trás e achas-te incapaz de seguir em frente. Estás perdido, sem remédio, sem esperança. Não te vês digno de perdão, quanto mais de amor.

Mas Jesus viu-te. E deixou o rebanho seguro para vir à tua procura.

Aí está, ao teu lado, como se só existisses tu. Tem todo o tempo do mundo, uma compreensão sem limites e um coração inteiro para te oferecer.

Deixa-te encontrar.

Estás chamado a ser sincero, mesmo que os outros mintam. A ser honesto, ainda que sejas o único. A ser generoso no meio de tanto egoísmo.

Esquece essa intuição infantil de que é justo pecar tanto como os outros! É a Deus que respondes. À verdade e ao bem.

Luta por ser santo, não por ficar acima da média.

Que estou aqui por minha conta, que sei tudo, que tenho muita força, que não preciso de ninguém.

Ou que é melhor não incomodar, que ninguém se importa, que ninguém quer ajudar.

E, mesmo que desse, por que razão quereria fazer tudo sozinho? Para ficar com o mérito só para mim? Para me destacar dos outros? Para ganhar a corrida?

Qual corrida? A que importa, corre-se em equipa.

Não sabes benzer-te. Fazes uns movimentos apressados à frente da cara com medo que alguém veja.

Mas os gestos têm significados. Devemos fazê-los com consciência, com a segurança de quem diz algo, com a pausa de quem tem devoção.

Faz o sinal da cruz sobre ti devagar, com um gesto amplo, repetindo as palavras que te colocam diante da Trindade.

Leva o joelho direito ao chão quando passares à frente do sacrário, mostrando a tua disposição de servir o Rei que ali se prendeu por amor.

Mostra carinho ao bater no peito, ao ajoelhar, ao fazer uma inclinação... Com simplicidade, sem espalhafato, mas recordando que estás diante de Deus.

Não pergunto se gostaste da atividade, se achaste a cerimónia bonita, se gostaste das pessoas. Só se gostas de estar com Deus.

Também não pergunto se te é útil, ou fácil, ou se tens muitas luzes. Só se gostas de estar.

Também não é sobre trabalhar para Deus, nem falar Dele, nem cantar. Só estar.

Gostas? Como quem gosta de estar com quem ama, ainda que seja em silêncio? Como quem descansa em alguém só pela sua presença?

Não sabes? Que mundo tens a descobrir!

O Jubileu é um tempo para trazer de volta.

Trazer o nosso coração de volta para Deus. Trazer a realidade de volta, sobre o orgulho. Trazer de volta o perdão, sobre as nossas birras. Recuperar a paz e a confiança. Voltar ao caminho.

E trazer de volta os que estão longe ou se afastaram, mostrando, com a nossa presença, o rosto misericordioso de Deus.

Veem-no em ti?

*

A diocese de Lisboa anunciou um bom momento para experimentar esse regresso e mostrar esse rosto. Segue o @vemver.lx

Falta-te audácia. Tentas sempre pequenino, seguro. Não acreditas nas pessoas, nem no trabalho bem feito, nem no poder de Deus. Vives a enterrar talentos, teus e de outros, para não os perder.

Ao teu lado, fazem grandes coisas os que não conhecem Cristo. Atraem gente, trabalham bem, mexem-se.

Faz como eles, aponta alto. Tens os mesmos meios. Tens motivos maiores. E tens Deus!

Como queres apresentar um Deus que é amor, se mostras precisamente o contrário?

Não estou a falar da tua fidelidade à doutrina. É o modo, a atitude: parece que só queres ter razão, vencer, humilhar.

Deus fez-se homem, a nossa fé é relação. Não basta conhecer Cristo, Ele pede o coração. Não basta falar Dele, tens de O mostrar.

Quando não és amável, não és credível. E a tua preocupação pelos outros é muito ineficaz. Se é que existe...

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