Ainda que faças coisas incríveis e sejas muito dotado. Que sejas o melhor e tenhas transformado a pastoral. Que os frutos sejam visíveis e abundantes.

Quando saíres tu, entrará outro. Se não fizerem como tu fazes, farão de outro modo. Se os frutos não forem imediatos, virão depois.

Por isso, deixa por momentos esse olhar crítico sobre o trabalho dos outros. Não comentes tudo, não digas como farias, não faças birras, não sejas irónico. Aceita fazer como eles pensaram. Com boa cara, com empenho, confiando no Espírito Santo.

Deus também consegue fazer coisas boas sem ti!

Nossa Senhora nasceu sem pecado e sem pecado foi elevada ao céu. Nenhum. Zero.

Já falhaste essa meta. Mas conhecer uma criatura tão bela e pura, há de fazer nascer em ti o mesmo desejo de amar Deus sobre todas as coisas. E de recomeçar com esperança depois de cada queda.

Pede-lhe hoje a mesma simplicidade com que Ela glorificou o Senhor. E a convicção de que Deus faz mais com a tua humildade do que com o teu talento.

Não tem mesmo. Por isso, deves desculpar.

Não vale a pena insultares o senhor com 100 anos que se atrapalha no trânsito. Não vale a pena dizeres mal do cunhado novo que ainda não sabe as regras da família. Não vale a pena desesperares com uma pessoa que é lenta porque está doente.

Há gente que está por obrigação onde não consegue ou não sabe estar. Não te chateies, explica. Não julgues, acolhe. Não têm culpa.

Tu próprio, às vezes, atropelas tudo e nem te dás conta. Falta-te noção. Mas, sobretudo, falta-te alguém paciente, que te compreenda e ajude. É o que podes fazer aos outros.

Como se tivesses sido criado para te condenares e tivesses em mãos a impossível tarefa de o evitar. Tens um discurso exigente, feito com as palavras mais duras da Bíblia e as ideias mais radicais dos santos. Vigias os costumes e assumes nos outros intenções erradas.

Mas nesta cruzada nem tu te converteste! Essa exigência toda não fez de ti melhor cristão. Não cresceste em caridade, não confias na oração, não vês Deus como Pai, nem Cristo como irmão. Não é assim que vais vencer os defeitos que te envergonham. E que temes.

Foste criado por amor e para amar. Deus quer-te junto Dele agora e na eternidade. E está empenhado nisso. A união com Jesus pode ser exigente mas traz paz, esperança, alegria, serenidade. Deixa-te ajudar.

Essa figura amável é Ele. Não temas.

Houve um momento em que achaste que irias estar sempre espiritualmente em altas! Era tal a alegria e a serenidade que não pensavas possível sair desse estado.

Mas deste por ti outra vez preguiçoso, sem vontade para as coisas de Deus. E voltaram as tentações. E as quedas. E a consciência da fragilidade.

Se estivesses sempre bem serias um orgulhoso. Tens de voltar a procurar, sempre. Redescobrir o amor de Deus e vencer-te nas entregas difíceis, que já foram fáceis. E perseverar.

O Advento é bom para isso.

Os católicos que te irritam, que achas pouco livres e naturais, que parecem ter nascido num dia de sorte, que, para ti, ligam demasiado a regras e a tradições, que conheceste em pequeno, todos vestidos de igual... são como tu.

Têm as mesmas lutas e paixões, as mesmas dificuldades e fraquezas, a mesma ignorância e a mesma necessidade de Deus. São tão bons ou tão maus como tu, capazes do melhor e do pior.

E lutam.

Já sei que te irritam, mas não te percas em ninharias externas que não definem ninguém. Nem os que te irritam, nem os que irritas tu.

O meu amor por ti não é exclusivo. Não sei se é. Agora apeteces-me, amanhã logo se vê. Compromisso? Calma, preciso de te experimentar. Se me agradares, talvez pense nisso. A vida é minha, dou-te uns dias. Também não quero a tua, quero uns dias. Não sei quantos. Se te incomoda, podes ir, um pedaço já cá canta. Leva também um. Guardo o resto para quem vier. Os restos.

Feio, não é?

É bem mais belo o que dizes quando a entrega é única, exclusiva e fiel. Como o amor deve ser.

Esses loucos que esperam pelo casamento, talvez sejam, afinal, os mais sensatos.

Como esperas que seja? Fácil? Cego? Talvez uma harmonia sem esforço? Alguém sem defeitos? Ou com defeitos fáceis de amar? Uma certeza inquestionável? Uma compreensão total?

Desculpa desiludir-te: assim não existe. Pelo menos mais do que um mês!

Podes procurar ou esperar esse amor verdadeiro. Mas só o encontrarás depois de o escolheres. No primeiro dia e em todos, até ao último. Por amor, não por segurança.

Deus é Amor verdadeiro. Se os outros amores que escolhes te aproximam Dele, mais verdadeiros são.

Os problemas de quem gostas mexem contigo. E o teu coração cristão faz-te estar disponível. Tens uma vontade grande de acompanhar quem passa por um mau momento, quem sofreu uma perda, quem teve um acidente. O choque da notícia ativou a tua compaixão.

Mas o tempo passa. Habituas-te à condição dos outros. O que antes comovia já entrou na rotina. E a tua disponibilidade para cuidar vai caindo no esquecimento.

"A fidelidade no tempo é o nome do amor."

É o momento de provares a tua amizade. De estar presente quando o problema não é novo, mas dói ainda mais a quem o sofre. Deixa que aqueles que precisam de ti compliquem a tua vida.

Deus vem. Veio e vem hoje. Vem ao teu encontro e quer permanecer ao teu lado. Não te esqueceu, chama continuamente o teu nome.

Deixa-te encontrar. Não digas que não tens tempo, não digas que não precisas. Não escolhas outros deuses.

Não caias na armadilha de achar que se pode viver sem sentido. Ou que este se encontra em coisas caducas.

Ajoelha-te, com humildade, para acolher Deus que quer subir para o teu colo. Bom advento.

Não fizeram nada de especial, não têm uma posição relevante. Não são criminosos, nem grandes malucos. Ninguém os adora, ninguém os odeia. Não são conhecidos, não são desprezados. Não têm um papel de destaque. São gente comum.

Também és um deles? E passa-te pela cabeça um grande desejo de ser conhecido, de ser adorado? Ou de fazer extravagâncias para que alguém fale de ti?

Deixa-te estar. Que boa oportunidade de fazer o bem discretamente, de provar a tua amizade no pequeno círculo que te rodeia, de construir uma família sólida, de trabalhar com responsabilidade. De dar valor ao que te foi dado.

Para Deus não há gente comum. Ele liga-te.

Reconhece diante de Deus –presente no padre que te ouve– os teus pecados. Concretos. De forma clara.

Coisas como: fiz de tudo, portei-me mal nesse campo, pequei contra este mandamento... Não são mentira, mas não te ajudam ao arrependimento nem a pedir perdão.

É natural de te custe falar das coisas concretas em que ficas mal. Ainda tens sensibilidade. Podes pedir ajuda ao sacerdote dizendo que queres falar de um tema mas tens muita vergonha.

Não te confessas porque podias ser melhor. Confessas-te porque erraste: pede perdão por esse erro. Para receber um abraço de Cristo, é claro que compensa.

E será que, quando ensinas o que sabes, levas outros a amá-Lo.

Sim, tens essa intenção. Mas também é verdade que a tua postura nem sempre o mostra. Entusiasmaste-te com a batalha, encheste-te de autoridade, decoraste as definições.

E, quando te ouvem, não percebem o que dizes. Nem sentem simpatia por Aquele que apresentas. Não vais ao encontro de dúvidas: despejas respostas. Não vais ao encontro das pessoas: do alto da tua sabedoria, não podes inclinar-te sem medo de cair.

Continua a querer saber muito sobre Deus, também com o coração. Não O tentes fechar na tua cabeça, que, por muito que saiba, sabe muito pouco.

Lembras-te? A tristeza em que o Senhor te encontrou? O desalento de uma vida repleta de coisas humanas mas sem sentido? A consciência de uma pesada solidão mesmo rodeado de gente?

E o alívio que experimentaste? A paz que nunca tinhas tido? A companhia que sempre lá esteve sem que nunca tivesses notado?

Recorda-o agora que estás cansado e a tentação é mais forte. A saudade dos prazeres antigos é persuasiva, mas também sabes que é amarga e passageira. Resiste.

E pede. Aquele que já te resgatou vai buscar-Te a qualquer lugar. Mas preferia que não saísses do Seu lado.

Isto é para o papelão, este é maluco, garrafas é no plástico, o outro é um egoísta. Esferovite não sabes, mas é lixo; aquele não sabes, mas é para estar longe. Lês etiquetas para separar, pões etiquetas para te afirmares. Separas o lixo para que alguém o recicle, mas nunca recuperas a honra de ninguém.

Tens demasiada facilidade em julgar pessoas que conheces mal, por coisas que ouviste dizer. Jesus, que te conhece como ninguém, é bem mais brando contigo.

Oxalá descubras a caridade antes que te comecem a tratar como lixo.

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